Com amor, Brent.

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Eu consigo lembrar claramente do dia que eu fui selecionado pelo Philadelphia Eagles. Eu estava no porão da casa dos meus pais. Haviam muitos amigos e muitos membros da família por perto, e muita comida. Eu não tinha certeza se seria selecionado no draft, eu esperei, apavorado. Eu não fui sequer convidado para o combine. Então o telefone tocou: era um código de área 215. Assim que eu atendi, a pessoa do outro lado da linha disse que era representante do Philadelphia Eagles e que ele iria passar o telefone para o técnico Andy Reid. Ouvir o coach Reid falar que eles estavam me selecionando com a escolha 162 mudou minha vida. Eu jurei a ele, e à toda organização, que a partir daquele dia em diante eles iriam ter o meu máximo. Nada menos.

Onze anos depois eu fazia parte do time que venceu o Super Bowl pela primeira vez na história da Philadelphia. Tem sido uma jornada maravilhosa – uma jornada que agora chega ao fim. É uma decisão e tanto, mas não é uma decisão difícil: Apesar de eu saber que eu ainda sou capaz de continuar jogando futebol americano em alto nível, e embora eu tenha recebido ofertas para continuar minha carreira na NFL, meu coração disse que essa era a hora.

O ponto-chave foi esse: Quando eu pensei longamente em usar outro uniforme, pareceu-me errado. No final, eu não poderia fazer isso. Minha carreira começou, e terminou, com o Philadelphia Eagles – e cara, nós terminamos com estilo.

Nos últimos meses, quando eu cheguei a essa decisão, eu tive a oportunidade de refletir sobre a minha carreira. Tem havido tantas pessoas influentes e tantas grandes memórias, eu não poderia colocá-las todas em palavras, mas aqui estão algumas que se destacam para mim:

Eu cheguei nos Eagles quando eles eram carregados por veteranos como Dawkins, Westbrook, Runyan e McNabb. Eu assistia esses caras diariamente tentando aprender o que significava ser um jogador profissional. Eu queria ser o melhor companheiro de equipe que eu pudesse ser, pois eu não queria decepcionar nenhum deles. O que eu aprendi é que você tem que trabalhar duro. Muito duro. Todos os dias. E você tem que inspirar seus colegas a fazer o mesmo. Eu tentei o meu melhor para inspirar meus parceiros em campo e para nos divertirmos. Missão cumprida, em ambas as frentes.

Detroit Lions v Philadelphia Eagles

Eu lembro do Milagre de Meadowlands 2 e do jogo da neve. Eu também lembro de vencermos Dallas para chegarmos aos playoffs no final da temporada de 2008. Eu te diria que foi incrível, mas seria um eufemismo. Mas nem tudo foi bom. Eu também me lembro de ser eliminado dos playoffs quatro vezes na minha carreira, e o quão esmagadoras essas derrotas foram. Como os altos e baixos iam e vinham, eu conseguia sempre sentir a frustração dos torcedores. Eles se importavam com uma coisa apenas: o Super Bowl. Eles passaram por derrotas no NFC Championship, derrota no Super Bowl, e eles apenas desejavam por uma chance de vencer tudo. No fim das contas, Philadelphia é uma cidade que ama futebol americano. Eu pude ver isso no dia que eu cheguei aqui. Vivendo em South Philly nos últimos 11 anos, eu tenho que ouvir os Keenans contar todas as notícias do time antes que eu soubesse. Todos têm sua própria opinião e é isso que é incrível. Na maioria das cidades se o time não é bom eles simplesmente não vão ao jogo. Em Philly todos vão ao jogo; eles vaiam o jogo inteiro. Eu amo isso. Mostra a paixão deles. Faça chuva ou faça sol, eles vão ao jogo e te dizem exatamente como eles se sentem. Ao longo dos anos eu cresci amando e respeitando isso. É por isso que eu constantemente dizia nas entrevistas que a única coisa que me importava era vencer o Super Bowl. Eu agradeço toda a energia e paixão que os torcedores de Philly trazem toda semana.

Existem coisas que eu nunca vou esquecer quando eu olho para trás e vejo a incrível temporada de 2017. Os primeiros sinais que as coisas estavam diferentes vieram quando eu estava sentado na cafeteria no NovaCare em abril. Eu estava junto do Alshon Jeffery, que eu recém tinha conhecido há alguns dias atrás, e enquanto estávamos sentados lá eu disse, “Cara, nós não vencemos nessa cidade ainda. Você consegue imaginar como essa cidade iria ficar se nós vencêssemos o Super Bowl?” Alshon respondeu, “SE?? Você quis dizer QUANDO?” Eu me arrepio lembrando disso. Ele estava certo. Nós tínhamos que ter uma mentalidade diferente. Tratando isso como se esse fosse o nosso último ano. TODO ano tem que ser assim, e entrando naquele ano sentimos que todos trouxemos aquela mentalidade. Então a temporada começou e Wentz estava imparável, tendo uma temporada de MVP, e nos liderando com sua energia e paixão. Vencendo os Giants com o FG de 61 jardas do Jake Elliott foi catalisador para uma vibração no vestiário que eu nunca tinha presenciado. Era uma mentalidade que foi abastecida por caras que já tinham feito isso antes. Caras como Chris Long, LG, Malcolm, Chris Maragos, Torrey Smith e Corey Graham. Nós também tínhamos um líder destemido em Doug Pederson, que não tinha medo de ir para à guerra com seus jogadores. Nós podíamos sentir isso. O ano passado parecia o clima perfeito. Com a quantidade de lesões que tivemos com jogadores chaves, e o fato de que nós podíamos, ainda, passar por cima disso, só mostrou o tipo de time que nós éramos. Jogadores altruístas que só queriam vencer. Nós sabíamos que apenas chegar lá não era o bastante. Nós tínhamos que vencer tudo. Qualquer coisa próximo disso seria um fracasso. Nós tínhamos caras como Wentz, Sproles, Maragos, Hicks e JP, que nos ajudaram a chegar ao Super Bowl e não poderiam estar em campo com nós, e nós não podíamos decepcioná-los. Enquanto estávamos no campo em Minnesota e o relógio bateu 00:00 com o placar mostrando 41-33 – EAGLES 41, Patriots 33 – eu sinceramente achei que eu estava sonhando. Liderados por Nick Foles, nós vencemos o melhor time da liga, o time cinco vezes campeão, e o grande Tom Brady, para vencermos o nosso primeiro título. Foi lendário, e sim, o pós-jogo foi sensacionaaaaaaaal. Fazer parte daquela parada foi especial. Ver todos os torcedores chorando de alegria e depois ver Kelce entregar um discurso épico que resumiu tudo. Foi um final perfeito para uma temporada perfeita.

Uma coisa que eu vou sentir muita falta é a interação com meus companheiros de equipe no dia-a-dia. Aqueles encontros entre os tight ends onde Ertz, Trey e eu falávamos sobre ser um grupo que o time podia contar. Aquelas noites de sábado conversando com a linha ofensiva e os running backs, quando os rapazes ficavam emocionados e falavam sobre o que cada um significava para cada um do grupo. Eu vou sentir falta desses momentos casuais antes dos treinos onde nós estávamos na sala de treino falando besteiras para cada um. Ou gritando com Beau e Mack enquanto jogávamos Rocket League. Eu não vou esquecer do Stout gritando nas quartas-feiras que nós precisávamos ter um grande dia de treino. Eu não vou esquecer os lendários discursos que Donnie e Jon Dorenbos costumavam nos dar, ou tirar uma onda com Feeley e Herremans sobre as divertidas escapadas semanais. Eu não vou esquecer de ter jogado com três dos mesmos companheiros de equipe que eu tive em Cincinnati (Kelce, Cole e Barwin) – B-E-A-R-C-A-T-S. Eu não vou esquecer do Jmac, Djax e Shady discutindo sobre quem era o melhor jogador de basquete na NBA. Eu sempre vou lembrar Vinny Curry nos derrubando com o Ric Flair. Eu não vou esquecer todos os monster trucks que o Fletcher iria dirigindo para o trabalho. Eu também vou sentir falta da energia antes dos jogos enquanto JP é o DJ tocando todas as músicas novas do momento. Eu não vou esquecer do Duce nos colocando pra cima de uma maneira diferente antes dos jogos. Aos jogadores que eu joguei durante minha carreira de 11 anos, eu só queria dizer, obrigado. Vocês são o motivo de eu ir trabalhar todos os dias. Eu amo vocês.

Eu não vou esquecer das risadas malucas de Karen e Harold enquanto eu caminhava pelas instalações do time, ou de ver Troy se alongando na sala de treino, sempre dizendo que ele estava pronto para me cobrir lol. Eu não vou esquecer de ouvir o Greg lidar com 53 pessoas, tendo certeza que seus guarda-roupas estavam impecáveis durante o dia de jogo. Eu vou lembrar do Barry Rubin dizendo, “Ei amigo, por que você não vem pegar algumas armas depois do treino?” Eu não vou esquecer o T4 e todos os seus perfeitos cortes de cabelo, ou conversando com Keith sobre os últimos lançamentos no Netflix. Eu não vou esquecer do Tim lembrando de todos os pedidos de café da manhã de várias pessoas na cafeteria, ou ir até o escritório da Joyce para pegar algum documento e falar sobre as nossas famílias. Ou beber Kombucha com Kelce e Mate depois dos treinos, tentando solucionar os problemas do mundo. Eu vou lembrar de fazer exercícios com Rick, Peduzzi e Joe. Eu não vou esquecer do Howie me motivando a ser um líder melhor, ou ouvir o coach Reid nos dizer nas noites que antecediam os jogos para que deixássemos nossa personalidade aparecer – e que ele iria nos dar cheeseburgers e Haagen-Dazs ao final das reuniões com o time. Eu vou lembrar de estar sentado no escritório do Dom como se ele fosse o meu terapeuta, comendo donuts do Frangelli. Eu definitivamente não esquecerei quando Jeffrey Lurie, o melhor dono de todos na NFL, desejava boa sorte a todos os jogadores antes dos jogos no vestiário. Eu criei relacionamentos lá que irão durar para sempre. A organização é verdadeiramente parte da minha família.

Nos dias de jogo eu não vou esquecer de como eu olhava para o canto sudoeste do Linc e ver minha família torcendo por mim, ou de ver Steve Meyer gritando por mim no túnel enquanto nós entrávamos em campo. Eu vou sentir falta de sair com os caras no Chickie”s and Pete’s depois de cada jogo, conversando sobre o jogo que acabou de terminar. (Pra ser sincero – eu provavelmente continuarei indo ao Chickie’s and Pete’s depois dos jogos) Na maior parte, eu sentirei falta de estar em campo nos dias de jogos com meus DOGS. É um sentimento e uma união que não pode ser imitado.

Eu quero agradecer aos meus pais por sempre estarem comigo, fornecendo tudo que eu precisava para ter sucesso. Eu via minha mãe trabalhando em três salões de beleza enquanto tinha que criar cinco crianças – eu ainda não sei como tu conseguiu fazer isso. Eu não vou esquecer de quando morávamos naquela casa maluca com sete pessoas, ajudando um ao outro durante anos e assistindo minhas irmãs tornando-se grandes mães. Meu irmão Garrett está entrando em sua sétima temporada na NFL, e eu finalmente poderei assisti-lo aos domingos. Meu irmão Tyler, que mudou-se para Philly, é um dos meus melhores amigos. Eu enviei uma mensagem ao meu pai duas semanas atrás dizendo à ele que eu estava pensando em jogar mais uma temporada, e ele me respondeu imediatamente: “Se aposente.” Ele estava certo. Eu quero agradecer minha esposa, Celeste, por sempre me ouvir e ser minha melhor amiga. Uma voz de motivação que eu precisava quando as coisas estavam difíceis. Tudo isso enquanto cuidávamos de nossos filhos. Eu estou muito empolgado de passar mais tempo com meus filhos e ensiná-los todas as lições que eu aprendi com todas as pessoas que eu convivi durante esses anos.

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E agora? Meu amor e paixão sempre será o futebol americano. Eu estive comprometido com esse time por 11 anos, e eu continuarei, espero que para sempre. Eu estarei dando suporte aos jogadores de uma nova perspectiva. Eu estou muito animado com isso. Em adição, eu sempre tive interesse em imóveis. Isso corre nas minhas veias. O pai da minha mãe era um construtor de casas personalizadas, e o pai do meu pai tem avaliado e vendido imóveis durante a maior parte da sua vida. Eu tirei minha licença na última offseason porque isso é algo, além do futebol americano, que eu amo. Eu ainda estou aprendendo diariamente, mas eu estou pronto para colocar toda essa energia e paixão, que eu pus no futebol americano, na venda de imóveis.

Obrigado a todos os torcedores que torceram por mim por todos esses anos. Eu era apenas um menino de Cincinnat com um sonho de jogar na NFL, um menino que não foi convidado para participar do combine e que não era uma escolha alta no draft. Eu não tinha nenhuma garantia, mas eu acreditava em mim mesmo – e agora eu sangro verde para toda a vida. Para todos os jovens por aí: Sonhem alto. Trabalhem duro, e acreditem em vocês mesmos. Tudo é possível. Philadelphia, eu agradeço você por me transformar em um de vocês. Eu espero que isso seja apenas o início da nossa jornada juntos. E saibam disso: Eu estou em paz com essa decisão, porque por mais estressante que tenha sido o início da minha carreira, antes de eu receber a ligação de Andy Reid naquele dia no porão da casa dos meus pais, o final foi tão feliz como eu poderia imaginar.

Com amor, Brent.